Por Osnilda Lima, fsp- SIGNIS Brasil
No último sábado (18), na fronteira entre Brasil e Venezuela, na cidade de Pacaraima, no estado de Roraima, ocorreu um deplorável episodio. Um grupo de brasileiros destruiu acampamentos, queimou pertences e expulsou imigrantes venezuelanos, após um comerciante brasileiro ter sido assaltado.
A Força-Tarefa Humanitária, composta pelas Forças Armadas e integrada por organizações civis, confirmou em nota uma “manifestação com atos de violência e destruição de acampamentos de imigrantes situados em locais públicos”.
O texto também diz que a Força-Tarefa Humanitária “repudia atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade”. Os provocaram a fuga de 1,2 mil imigrantes de volta para a Venezuela.
O fato ocorrido deu-se devido, na noite de sexta-feira (17) de agosto, segundo informações da Força-Tarefa Humanitária, Raimundo Nonato de Oliveira, morador da cidade de Pacaraima, foi assaltado por supostamente imigrantes venezuelanos que estavam na cidade.
Ainda de acordo com Força-Tarefa Humanitária o agredido, após ser socorrido pela equipe médica de plantão do Hospital Délio de Oliveira Tupinambá, em Pacaraima, foi encaminhado para a capital de Roraima, Boa Vista. Atualmente, segundo informações do hospital, Raimundo encontra-se em situação estável.
Imigração venezuelana ao Brasil
Nos últimos anos o Brasil vem acolhendo um expressivo número de imigrantes e refugiados venezuelanos. No primeiro semestre deste ano, 56.740 venezuelanos procuraram legalizar sua situação no Brasil, ao solicitar a documentação de refúgio ou visto de residência temporária.
A Polícia Federal (PF) estima que cerca de 500 venezuelanos entram diariamente pela fronteira, entre as cidade venezuelana de Santa a Helena e a brasileira Pacaraima. Contudo, segundo a PF, o movimento está menor do que em janeiro, quando até 1.200 pessoas cruzavam a fronteira todos os dias fugindo da fome que aflige o país, em fuga devido a crise humanitária em que está passando a Venezuela. A estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) é que mais de 2,3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela por causa da crise econômica e social que assola o país.
Em entrevista à Cáritas Brasileira, em junho deste ano, dom José Luis Azuaje Ayala, arcebispo de Maracaibo, na Venezuela, e presidente da Conferência Episcopal da Venezuela e da Cáritas América Latina e Caribe, ressaltou que: “Devemos lembrar que este mundo é feito para todos, que as fronteiras são linhas imaginárias para ordenar, mas não para o impedimento da realização dos seres humanos.
Um migrante é um ser humano que tem dignidade em si mesmo, independentemente de raça, cor, credo ou ideologia. Todos nós possuímos a primeira dignidade que nos aproxima, irmãos, coparticipantes de uma história comum no mundo”.
E conta enfatiza: “Nós venezuelanos não temos uma vocação para migrar, pelo contrário, sempre nos distinguimos em acolher pessoas de outros países, sempre foi assim. Se você sair do país é porque as condições de segurança econômica, social, pessoal e legal não permitem que você viva. É algo de vida ou morte para milhões de pessoas”.